Autor: Marcos França em uma livre adaptação da obra Minetti de Thomas Bernhard

Nenhum de nós mente ou finge

O espaço é a própria sala de espetáculo. A plateia é o interlocutor daquele ator que aguarda a chegada do diretor. Ele espera o diretor ou assinala sua ausência? Espera ou presentifica
uma saudade?

O teatro é o lugar da memória. E essa proposta do Marcos França de revisitar um
espetáculo que marcou a trajetória do Pequeno Gesto era, desde sempre, irrecusável. E
temos, ao longo dos ensaios, recordado muita coisa que vivemos juntos. E reencontrado
parceiros que nos acompanham desde sempre.

Na montagem, a projeção no fundo do palco de cenas de Henrique IV – espetáculo protagonizado por um Marcos ainda muito jovem – vai dar concretude às lembranças que o
ator evoca do seu trabalho de há 20 anos, demonstrando que, no passado, ele realmente representou este personagem. Mas as imagens projetadas funcionarão também como a lembrança que fica da fugacidade da obra do ator.

Numa relação intimista com o público, tendo em cena apenas o trono de Henrique IV – o mesmo de há 20 anos – e espectadores acomodados no fundo do palco, vamos afirmar, afetuosamente, que a prática teatral não é possível sem essas duas dimensões: uma que se identifica com a realidade e outra com a ficção.

O espetáculo é uma declaração de amor ao teatro. Em parte, é uma narrativa autobiográfica, mas deixa à plateia a decisão sobre quem é, afinal de contas, a figura que está em cena. O ator Marcos França? Ou um personagem ficcional? É essa atmosfera que se quer criar, levando o espectador a mergulhar num espaço ambíguo.

Porque, em cena, trata-se de uma história de verdade. Verdade que nunca aconteceu fora do teatro… mas isso é um detalhe.

Antonio Guedes
Diretor


Um ator está à espera de seu diretor para revisitar uma montagem que fizeram há mais de vinte anos. Enquanto aguarda a sua chegada, ele se põe a divagar sobre o teatro e o ofício do ator, sobre sua própria trajetória como artista.

“Nenhum de nós mente ou finge” é uma fala de Henrique IV, de Luigi Pirandello, personagem que vivi no palco há vinte e três anos, com a companhia Teatro do Pequeno Gesto.

Diz também sobre o real que fundamos em cena. Sobre a potência da palavra dita e esse ato de encontro que se dá entre nós, atores e espectadores.

Sou um ator de companhia. Acredito no afeto e na intimidade como material de trabalho. E que, assim como emprestamos algo de nós para cada personagem, eles também nos atravessam, deixando marcas que nos acompanham como tatuagens. Eu sou porque me permiti ser muitos. Porque sou a soma de todos os meus personagens.

Teatro é tão somente um lugar onde passamos juntos, já dizia Valère Novarina. Acredito realmente que, como o diz Henrique IV, o teatro é o lugar da mais pura verdade. Um pacto que acontece nesse encontro efêmero de pouco menos de uma hora. Um encontro onde permitimos afetar e sermos afetados.

É no lugar do afeto que essa obra foi gerada. Por estar em companhia, em boa companhia.
Entre nós.

Marcos França
Ator e Dramaturgo

Elenco:

Marcos França

Ficha Técnica:

Dramaturgia: Marcos França
Direção: Antonio Guedes
Dramaturgista: Fátima Saadi
Direção de arte: Mauro Leite
Iluminação: Anderson Ratto
Edição de vídeo: Marcos França
Música original: Andrea Spada (in memoriam)
Programação visual e Fotos: Ícaro J. Brito
Estagiária de produção: Thaís Frossard
Produção executiva: Flavio Moraes
Direção de produção: Ana Paula Abreu
Produção: Diálogo da Arte Produções Culturais
Idealização: Marcos França
Realização: Informal Produções Artísticas e Teatro do Pequeno Gesto

AGRADECIMENTO ESPECIAL AO ELENCO DA MONTAGEM ORIGINAL DE HENRIQUE IV

Alexandre Dantas, Claudia Ventura, Julia Merquior, Mario Piragibe, Priscila Amorim,
Rose Germano, Simone André, Vilma Melo, Walter Lima Torres.

Este espetáculo é dedicado a Andrea Spada e Binho Schaefer, in memoriam.