Autor: Valère Novarina

Casa da morte, cujo título original é Tejas verdes, foi escrita pelo autor espanhol Fermín Cabal com base em fatos reais da época da ditadura chilena (1973-1990). Tejas Verdes era o nome de um centro de detenção dirigido pelas forças armadas, que apoiaram o General Pinochet após o golpe militar que inaugurou um cruel período de repressão política, tortura e execuções.

Valère Novarina, autor muito encenado na Europa, é objeto de inúmeras teses acadêmicas. Entretanto, apesar das diversas montagens de seus textos no Rio de Janeiro, ainda é pouco conhecido no Brasil. Depois de Beckett, Novarina é um dos dramaturgos que apontam alternativas para a cena contemporânea, rompendo com a forma dramática tradicional e trabalhando as palavras como se fossem elementos concretos cujo sentido será atribuído pela articulação do espectador. Os escritos de Novarina não desenvolvem uma fábula, mas, de modo não descritivo, trabalham a palavra e o espaço em íntima ligação. Seu gesto é semelhante ao de Kandinsky, que constrói imagens de uma visualidade vibrante e ao de Miró, que valoriza em suas figuras o elemento lúdico.

Na obra de Novarina, a linguagem surge na relação com o outro, na fala, na elocução. Encenar suas peças é o mesmo que fazer um convite à celebração do jogo que as artes propõem: uma experiência de linguagem.

Criado em 1989, Vocês que habitam o tempo estreou em Avignon com encenação e pinturas do próprio Novarina. Esta peça, segundo o autor, “se desenvolve em cinco cenas sucessivas, um entreato e oito cenas de desenlace. Toda a peça foi construída a partir da circulação, da gravitação dos personagens.

Há aqueles que passam apenas uma vez e outros que passam duas vezes e outros que só irão aparecer no final. Eles não são personagens com identidades sociais ou psicológicas definidas, mas homens que são criados para falar diante de nossos olhos.”

Não há propriamente um enredo, mas os personagens procuram fazer com que identifiquemos, em cena, uma série de pensamentos que cada um de nós elabora inevitavelmente ao longo da vida, na travessia do tempo.

O espetáculo enfatiza o elemento musical no qual as palavras, em muitos momentos, pretendem se apoiar. Por isso, temos em cena uma violoncelista que sublinha melodicamente esses momentos, proporcionando à recepção da cena um novo fôlego e suavizando o impacto causado no espectador pela profusão de informações trazida pela onda de palavras.

O trabalho dos atores, a partir da exploração das características de cada um deles, buscava imprimir um tom cômico, com a intenção de evocar o quão desajustados somos todos no jogo com a passagem do tempo. Justamente por isso, o espaço foi concebido como uma espécie de picadeiro inspirado no jogo das formas que Kandinsky propõe em sua obra. Complementando o piso, um móbile, inspirado na leveza e na fluidez dos trabalhos de Calder, gira durante todo o espetáculo evocando a passagem do tempo e o movimento do mundo.

Ficha Técnica:

tradução ANGELA LEITE LOPES
adaptação e encenação ANTONIO GUEDES
dramaturgista FÁTIMA SAADI
direção musical AMORA PÊRA E PAULA LEAL

cenografia DORIS ROLLEMBERG
figurinos NÍVEA FASO
desenho de luz BINHO SCHAEFER
fotos CAROLINA MADURO

Elenco
ANTONIO ALVES
CRISTINA FLORES
FERNANDA MAIA
OSCAR SARAIVA
SÉRGIO MACHADO

FOTOS DE CAROLINA MADURO